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Podcast Homo SemDeus

HomoSemDeus é o podcast oficial da Associação Ateísta Portuguesa, onde exploramos as fronteiras do livre pensamento. De entrevistas com ateus a comentários sobre notícias relevantes, mergulhamos no ateísmo como mundividência válida e questionamos crenças e superstições. Com uma abordagem crítica da religião, promovemos os valores da liberdade, do humanismo e da razão.

Descubra a história de alguns dos nossos associados, notícias sobre eventos e iniciativas da AAP para sócios e para o público e análises de notícias e acontecimentos atuais que impactam os ateus de Portugal. Participe da conversa aqui e envie-nos a sua mensagem de voz ou texto.

Quinzenal, às quartas-feiras.

Apresentado por Eva Monteiro, podcaster e membro da direção da AAP.

No episódio inaugural do podcast Homo SemDeus, introduzimos o objetivo da série: questionar crenças, partilhar histórias de ateus e promover o pensamento crítico, especialmente numa sociedade cada vez mais dividida por questões religiosas.

O convidado especial foi João Monteiro, presidente da AAP, que partilhou a sua trajetória pessoal e as metas da associação. O episódio refletiu sobre a missão da AAP de apoiar os livre-pensadores e lutar pelos direitos dos ateus em Portugal, fornecendo-lhes uma base para uma comunidade. A conversa começou com João Monteiro a relatar a sua jornada gradual para o ateísmo. Educado num contexto cristão-católico, passou por momentos decisivos durante a catequese, onde se sentiu desconfortável ao professar uma crença na qual não acreditava.

Essa experiência desencadeou um afastamento progressivo da religião, consolidado pelo estudo da história das religiões, em que compreendeu que muitas crenças resultam de decisões humanas ao longo do tempo. Ao contrário de muitos, a sua descrença não se deveu ao avanço científico, mas ao entendimento do contexto histórico das religiões.

No plano mais amplo, o presidente da AAP descreveu como tem sido a sua experiência enquanto ateu em Portugal, mencionando a aceitação positiva, sobretudo em ambientes urbanos como a cidade em que vive: Lisboa. Contudo, reconhece que em regiões mais conservadoras, como o interior do país, a discriminação e a perseguição a ateus podem ser mais evidentes. A AAP tem um papel crucial em fornecer apoio legal e institucional para aqueles que se sentem marginalizados pela sua ausência de crença.

A entrevista também explora o papel de João Monteiro como presidente da AAP. Assumiu a direção num momento de transição, com a saída do fundador, Carlos Esperança. Sob a sua liderança, a Associação tem focado em manter uma estrutura funcional, aumentar a presença nas redes sociais e diversificar os projetos, como a criação de uma biblioteca ateísta.

João Monteiro sublinhou a importância de envolver mais associados nas atividades e projetos futuros da AAP. O episódio concluiu com reflexões sobre o futuro do ateísmo em Portugal. Acredita que o número de não religiosos está a crescer, especialmente entre os jovens, e prevê que o ateísmo se tornará uma posição cada vez mais relevante na sociedade portuguesa. No entanto, enfatiza que esse crescimento deve ser tratado com responsabilidade, promovendo sempre o diálogo construtivo e o respeito pelas crenças alheias.

Quando a Inclusão Esbarra na Exclusão

No mais recente episódio do Podcast Homo SemDeus, decidimos partilhar a nossa experiência numa aventura inesperada: a visita à Aldeia das Religiões. Inicialmente, fomos convidados a participar oficialmente neste evento, que visa promover o diálogo entre diferentes crenças. Contudo, pouco tempo depois, o convite foi retirado, aparentemente por pressão de alguns grupos religiosos que não aceitavam a presença de ateus num espaço que deveria, teoricamente, promover a inclusão.

Mas, como bons ateus que somos, não nos deixamos abalar. Decidimos ir mesmo assim, desta vez como simples visitantes. Afinal, se o objetivo é o diálogo, por que não? O que encontrámos foi tanto fascinante como desconcertante. Para começar, esperávamos um evento cheio de pessoas e organizações prontas a partilhar as suas visões. Em vez disso, deparámo-nos com várias tendas vazias e uma atmosfera bastante tranquila, pelo menos durante a manhã de sábado.

A nossa primeira paragem foi na tenda da Igreja Adventista do Sétimo Dia, onde fomos recebidos pela Ana, uma jovem simpática e devota. A hospitalidade foi inegável, mas rapidamente nos deparamos com a típica compartimentalização de ideias que encontramos em muitos grupos religiosos. Embora o sábado seja o dia sagrado de descanso para esta confissão, aparentemente trabalhar num evento religioso não quebra essa regra. A nossa conversa com a Ana foi uma das mais longas e intrigantes do dia, tocando em temas como criacionismo, evolucionismo e até o dilúvio bíblico. Num momento surreal, a crença de que o dilúvio ocorreu numa altura em que os continentes ainda formavam a Pangeia fez-nos questionar o nível de conhecimento científico que alguns crentes possuem.

De facto, um dos maiores desafios durante estas conversas foi perceber como conceitos opostos, como criacionismo e ciência, são fundidos sem grande rigor. A tentativa de compatibilizar a evolução com o design divino é algo comum, mas que rapidamente se desmorona ao ser submetido ao pensamento crítico.

Depois de explorar outras tendas – onde conversámos com representantes muçulmanos, mórmons e da comunidade Bahá’í – fomos finalmente entrevistar o Padre João Torres, um dos organizadores da Aldeia das Religiões. Apesar da nossa exclusão do evento enquanto entidade, o padre recebeu-nos com cordialidade e partilhou a sua visão para o futuro do diálogo inter-religioso. Para ele, o sucesso deste tipo de encontros reside na capacidade de unir pessoas diferentes, mesmo que essas diferenças sejam irreconciliáveis em certos aspetos.

No entanto, uma reflexão crítica surge inevitavelmente: até que ponto este diálogo é realmente inclusivo? Embora muitas religiões preguem a tolerância e o respeito pelas diferenças, será que estão verdadeiramente dispostas a aceitar uma visão do mundo que não inclui a crença num qualquer deus? A nossa experiência mostrou-nos que, apesar de se falar muito de inclusão, há ainda barreiras profundas quando se trata de dar espaço a vozes que desafiam o status quo religioso.

Convidamos os nossos ouvintes a refletirem connosco: o diálogo ecuménico pode realmente incluir ateus? E mais, é possível encontrar terreno comum quando os fundamentos de crença e descrença são tão díspares? No final, fica a questão: estamos mesmo a caminhar para uma sociedade mais inclusiva, ou este tipo de eventos não passa de uma celebração do status quo religioso?

Entre a Contradição e a Exclusão

Neste segundo episódio dedicado à Aldeia das Religiões, continuamos a nossa análise crítica ao evento que, curiosamente, nos convidou e depois desconvidou. O objetivo inicial do encontro era nobre: promover o diálogo e a inclusão entre diferentes confissões religiosas. Contudo, parece que este diálogo tinha limites. Quando uma organização ateísta foi convidada a participar, algumas vozes religiosas decidiram que seria melhor excluir-nos. Mas nós não nos deixamos abater e decidimos visitar o evento como qualquer outro cidadão curioso.

Fomos recebidos com simpatia pelas várias organizações religiosas, incluindo mórmons, adventistas e muçulmanos. No entanto, o que se seguiu foi uma série de conversas que revelaram as profundas contradições e a dificuldade em conciliar crença religiosa com factos científicos. Uma das questões mais bizarras que enfrentámos foi a velha pergunta: “Se descendemos dos macacos, porque é que ainda existem macacos?” Esta questão foi apenas o início de uma avalanche de argumentos criacionistas, que envolviam desde a coexistência de Adão e Eva com outras 50 pessoas até à defesa de uma Pangeia bíblica.

Para os mórmons, a ciência e a religião parecem fundir-se numa curiosa prática de genealogia, onde alegam conseguir traçar as origens de qualquer pessoa até Adão e Eva. Esta justificação religiosa, que mistura uma leitura literal da Bíblia com dados genealógicos falíveis, tornou-se um dos pontos altos da nossa visita. Mas como explicar isso a quem acredita que o pecado original é transmitido de geração em geração? E mais ainda, como conciliar isso com a necessidade de um diálogo inter-religioso verdadeiramente inclusivo?

Falámos também com o Padre João Torres, que organiza a Aldeia das Religiões e que nos deu uma visão interessante sobre a pluralidade religiosa. Ele admitiu que, com o crescimento de novos templos religiosos, é preciso criar diálogos antes que “algo de mau” aconteça. Mas o que será exatamente essa coisa má? Terá o padre reconhecido, sem querer, que as religiões acabam por gerar conflitos quando tentam coexistir? E mais importante ainda: será que o diálogo inter-religioso está realmente preparado para incluir a não-crença?

A exclusão da Associação Ateísta Portuguesa foi uma das grandes falhas deste evento, que, à partida, se propunha a ser um espaço inclusivo. Como podemos falar de diálogo se nem todas as vozes têm lugar à mesa? É precisamente nesta exclusão que reside o maior problema da Aldeia das Religiões: ao afastar visões que não encaixam no paradigma religioso, limita-se o verdadeiro debate e perde-se a oportunidade de evoluir enquanto sociedade.

Por fim, uma reflexão crítica sobre a laicidade foi inevitável. Num mundo onde a separação entre Igreja e Estado é cada vez mais desafiada, o evento mostrou-nos que a luta pela neutralidade do Estado em relação à religião ainda tem um longo caminho a percorrer. Desde o financiamento de templos religiosos com dinheiro público até à presença de figuras públicas em cerimónias religiosas, é essencial que defendamos um Estado verdadeiramente laico, onde a liberdade de crença – e de não crença – seja respeitada.

Este episódio não só continua a nossa análise crítica à Aldeia das Religiões, mas também lança luz sobre os desafios futuros: será que eventos como este conseguem realmente promover a inclusão, ou são apenas uma celebração do status quo religioso? Fica a pergunta no ar, para que possamos refletir juntos.

No mais recente episódio do Homo Sem Deus, da Associação Ateísta Portuguesa, trouxemos uma discussão fundamental para o cenário ateísta português, explorando as questões que nos afetam profundamente como sociedade, desde as ingerências religiosas na política até ao impacto das declarações do Papa sobre temas que moldam a nossa realidade. Neste episódio, contámos com a habitual presença do João Monteiro, presidente da Associação, e mergulhámos em debates ricos e desafiantes, analisando criticamente o papel da religião no espaço público e a forma como continua a tentar influenciar a política e a vida das pessoas.

O peso das palavras do Papa

Iniciámos o episódio com uma análise das recentes declarações do Papa Francisco. O Papa, ao regressar da Bélgica, fez uma afirmação extremamente preocupante, apelidando os médicos que praticam interrupção voluntária da gravidez de “assassinos”. A gravidade dessas palavras não pode ser subestimada. Nós, como defensores de uma sociedade laica e livre de ingerências religiosas, ficámos profundamente preocupados com o potencial impacto que tais declarações podem ter na forma como os médicos são vistos e tratados, especialmente num contexto onde a religião ainda tem um peso considerável.

Estas declarações, feitas por um líder religioso que também é chefe de estado, levantam sérios problemas, pois não só incentivam a crítica aberta contra profissionais da saúde, como também abrem a porta para que crentes mais fervorosos adotem posturas agressivas e antagonistas. Em países como os Estados Unidos, já vimos como estas atitudes se traduzem em ataques físicos a clínicas e médicos que realizam abortos, e tememos que este discurso divisivo chegue à Europa. As palavras, como bem sabemos, têm consequências, e, ao serem proferidas por uma figura tão influente, podem incitar ações extremas.

Além disso, estas declarações relembram-nos o quanto a voz dos ateus e dos defensores da laicidade continua a ser silenciada nos meios de comunicação social. Como o João Monteiro referiu, a Associação Ateísta Portuguesa emitiu um comunicado oficial, mas, mais uma vez, a imprensa escolheu ignorar. Esta falta de representação mediática para os 20% da população portuguesa que se identifica como não religiosa é algo que não podemos continuar a aceitar. A nossa luta é pela igualdade de voz e pela defesa de uma sociedade verdadeiramente laica, onde todas as crenças — ou a ausência delas — possam coexistir sem privilégios ou imposições.

Ingerências religiosas no Estado

Passámos, depois, a discutir outra questão crítica: a constante intervenção da Igreja Católica na política portuguesa. Neste momento, o país está em plena discussão do Orçamento de Estado, e membros da hierarquia católica, como o Patriarca de Lisboa, Rui Valério, já se pronunciaram publicamente sobre a necessidade de os partidos se unirem para aprovar o orçamento. Esta intervenção é mais um exemplo claro da linha que a Igreja insiste em ultrapassar, ao tentar influenciar diretamente decisões políticas que deveriam ser completamente independentes de qualquer instituição religiosa.

Nós, enquanto defensores da laicidade, reiteramos que a religião não tem lugar na política, tal como a política não deve imiscuir-se na religião. No entanto, o que observamos é uma Igreja que não aceita esta separação e que continua a tentar recuperar o poder que tem perdido ao longo dos anos. A nossa missão, como Associação, é garantir que a Constituição seja respeitada e que a laicidade seja assegurada em todos os níveis da vida pública.

O escândalo dos abusos e o documentário “As Pupilas”

Outro tema que abordámos foi o recente documentário da SIC, intitulado “As Pupilas”, que trouxe à tona mais um conjunto de denúncias de abusos sexuais e violência física cometidos por membros da Igreja Católica. Este documentário foi mais uma prova de que os abusos dentro da Igreja não são casos isolados, mas sim parte de um problema sistémico que se perpetua há décadas. Tal como mencionámos no episódio, é preciso que estas denúncias não se limitem apenas à Igreja Católica; sabemos que outras confissões religiosas também enfrentam este tipo de problemas, e é fundamental que todos os casos sejam denunciados e tratados com a seriedade devida.

O mais chocante é que, mesmo após todos estes escândalos, a Igreja continua a encobrir casos e a evitar pagar indemnizações às vítimas. No documentário, vimos como, apesar das conclusões da comissão independente que investigou os abusos sexuais, a Igreja continua a fugir às suas responsabilidades. O Papa Francisco pode fazer declarações públicas afirmando que “na Igreja não há lugar para abusos“, mas as ações do Vaticano dizem-nos o contrário. Esta discrepância entre as palavras e os atos não é apenas desonesta, é perigosa.

Arte e ateísmo: a eterna discussão

Outro ponto interessante que discutimos foi a questão da arte religiosa. No nosso podcast, temos discutido como a religião tem influenciado a arte ao longo dos séculos, mas neste episódio quisemos desmistificar a ideia de que as grandes obras de arte só existem por causa da religião. Sim, é verdade que a Igreja foi, durante muitos séculos, uma das maiores financiadoras de arte, mas isso não significa que a arte não existiria sem ela. Muitos artistas criaram obras por necessidade, não por inspiração religiosa, e muitas outras obras de valor incalculável foram produzidas fora do contexto religioso.

Acreditamos que a arte, como a ciência, é uma expressão da evolução humana, algo que vai além de qualquer crença ou dogma. Mesmo nos tempos em que a Igreja detinha o monopólio do poder, havia artistas que criavam obras de caráter secular, que sobreviveram ao tempo e hoje são reconhecidas pela sua importância. Não podemos aceitar o argumento de que a religião foi responsável pelo desenvolvimento da arte ou da ciência; na verdade, foi apesar da religião que a humanidade conseguiu avançar em várias áreas do conhecimento e da criatividade.

Uma comunidade em crescimento

Finalmente, concluímos o episódio destacando o dinamismo que a Associação Ateísta Portuguesa tem experienciado nos últimos tempos. Temos visto um aumento na participação dos nossos associados, seja através do grupo de WhatsApp, seja nas tertúlias online que organizamos regularmente. Recentemente, tivemos a nossa primeira Tertúlia Livre-Pensar, que foi um enorme sucesso e contou com a presença de vários associados que contribuíram com as suas ideias e experiências. Estamos também a desenvolver uma Biblioteca Ateísta, um projeto que visa centralizar obras de interesse para a nossa comunidade, e que tem recebido apoio entusiástico dos nossos membros.

Outro destaque vai para a participação de Eva Monteiro, que esteve recentemente num canal de YouTube brasileiro, os Ativistas Ateus do Brasil, onde discutiu as diferenças e semelhanças entre o movimento ateísta nos dois países. Esta colaboração transatlântica é crucial para fortalecer o movimento ateísta a nível global e promover o intercâmbio de ideias entre diferentes comunidades.

Encerrámos o episódio com uma reflexão sobre o futuro. O ateísmo em Portugal está a crescer, mas ainda enfrentamos desafios significativos, desde a falta de representação nos media até à persistência de preconceitos no local de trabalho, como nos lembrou um dos nossos ouvintes que partilhou a sua experiência de discriminação por ser ateu. É fundamental continuarmos a lutar por um espaço público verdadeiramente laico, onde as vozes ateístas possam ser ouvidas sem medo de represálias.

No Homo SemDeus continuaremos a questionar, a duvidar e a explorar as vastas fronteiras do pensamento crítico. E, enquanto houver crenças a serem desconstruídas e tabus a serem desafiados, estaremos aqui para dar voz a todos aqueles que, como nós, escolhem ser primatas pensantes sem Deus.

Na sociedade portuguesa, onde a fé e a tradição permanecem pilares que orientam muitas vidas, existe uma resistência profunda à desconstrução de velhos dogmas. É nesse contexto que a discussão sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) se revela como um dos mais espinhosos e polarizadores debates contemporâneos. Em 2007, Portugal deu um passo à frente ao legalizar a IVG até às 10 semanas de gestação, um direito conquistado com resistência e suor. Contudo, essa vitória não selou a luta. Como refere Patrícia Cardoso, fundadora da Associação Escolha, o direito à escolha ainda é visto com desconfiança e sofre a opressão de uma sociedade onde os mandamentos de uma moralidade religiosa ainda pressionam mulheres a lidarem com o estigma e a culpa, alimentados por séculos de preceitos que perpetuam a opressão.

Neste episódio do Homo SemDeus, trago à luz a conversa franca com a Patrícia, onde nos debruçamos sobre as realidades amargas que muitas mulheres enfrentam ao decidir pela IVG, em um país que ainda hesita em apoiar as suas decisões.

Imaginem o seguinte cenário: uma mulher decide interromper uma gravidez, com toda a ponderação que uma decisão dessas exige. Ainda assim, mesmo tendo a lei a seu favor, o processo não se desenrola como esperado. O sistema de saúde que deveria garantir o direito e a proteção às pessoas gestantes transforma-se numa barreira. Patrícia Cardoso descreve com clareza os entraves que enfrentou pessoalmente ao tentar realizar uma IVG. Em 2020, no auge da pandemia, deparou-se com a frieza e negação do hospital mais próximo, onde foi informada que a unidade recusava fazer o procedimento por “objeção de consciência”. Esse termo — tão frequentemente usado por instituições médicas — expõe a vulnerabilidade de muitas mulheres que, por falta de informação ou acesso, acabam desamparadas.

Patrícia revela um sistema de saúde que, muitas vezes, age como inimigo, negligenciando a autonomia das mulheres. Perante a negação, acabou recorrendo a uma clínica privada, onde teve de arcar com custos elevados para um procedimento que, segundo a lei, deveria ser gratuito e acessível. Para a maioria das mulheres em situações semelhantes, porém, os valores exigidos para um aborto privado são proibitivos, impondo uma desumanidade que nega o acesso à saúde.

Em Portugal, onde a Igreja Católica mantém uma presença marcante, especialmente em regiões mais conservadoras como o Norte e o Alentejo, o estigma e a culpa católica ainda acompanham o tema do aborto. Para a Associação Escolha, é fundamental informar as mulheres sobre os seus direitos, capacitando-as para enfrentar o sistema de saúde com pleno conhecimento das suas garantias. Essa iniciativa visa, acima de tudo, a desconstrução de estigmas e a criação de espaços seguros para discussão, onde as mulheres possam partilhar experiências sem o medo de represálias ou julgamentos.

A laicidade em Portugal é constantemente questionada por ações que sugerem o contrário. Apesar de o país ser oficialmente laico, os valores católicos ainda permeiam instituições e comportamentos. A oposição organizada ao direito de escolha parte maioritariamente de movimentos religiosos que, em nome da moral, confrontam o direito à autonomia da mulher. A presença de pessoas que rezam e protestam em frente a clínicas que realizam a IVG em Lisboa, por exemplo, é um triste testemunho da pressão social que muitas gestantes enfrentam. São vozes que utilizam o peso das tradições para tornar uma decisão legítima num ato vergonhoso.

O custo financeiro para a realização de uma IVG privada ressalva uma das maiores injustiças sociais no acesso ao aborto seguro. Como relembra Patrícia, em regiões onde a IVG não é disponibilizada por objeção de consciência, muitas mulheres, especialmente aquelas em relações abusivas ou com pouca independência financeira, encontram-se encurraladas. Para mulheres em situações de pobreza ou vulnerabilidade, a decisão de interromper uma gravidez torna-se um beco sem saída.

A Associação Escolha luta para que a IVG seja tratada como um direito igualitário, acessível e desprovido de julgamentos morais. O objetivo é que as mulheres possam aceder ao serviço de saúde sem precisar lutar contra a intransigência e o preconceito, evitando as barreiras impostas pela subjetividade de uma objeção de consciência que, na prática, coloca em risco a vida e o bem-estar das gestantes.

As resistências religiosas à IVG sustentam-se no conceito de que a vida começa no momento da conceção. Contudo, a ciência tem uma definição muito mais pragmática, pautando-se por parâmetros biológicos. No processo de IVG, o que existe é um conjunto de células que, embora possua o potencial de desenvolver, ainda não é considerado uma vida humana completa. Mesmo assim, é frequente a utilização de imagens manipuladas, retratando fetos desenvolvidos como se fossem embriões nos estágios iniciais, numa tentativa de chocar e induzir o medo e a culpa.

A IVG não representa apenas uma questão de saúde; reflete também uma ameaça ao sistema patriarcal que depende da subjugação das mulheres para se perpetuar. Ao conceder autonomia sobre os seus corpos, a sociedade confronta uma noção tradicionalista que sempre limitou as mulheres ao papel de mães e esposas. O direito à IVG torna-se, então, um símbolo de liberdade individual e, por isso, recebe este nível de oposição.

Para Patrícia, a educação é a chave para transformar a perceção da IVG e garantir o futuro de uma geração que cresce sem as amarras do passado. As gerações mais jovens, nascidas em plena democracia e com maior exposição a ideias progressistas, são mais propensas a questionar o que lhes é imposto. No entanto, esta liberdade traz consigo a responsabilidade de garantir que os direitos conquistados sejam preservados e ampliados.

A IVG em Portugal é um direito conquistado, mas não imune às investidas da tradição e da fé, que continuam a desafiar a laicidade do Estado e a autonomia feminina. A luta pela liberdade de escolha é contínua, e a cada mulher ou pessoa gestante trava uma batalha para decidir o que faz ao seu próprio corpo. A laicidade em Portugal ainda é frágil, e a autonomia da mulher enfrenta entraves impostos por uma sociedade que persiste em vê-la como mera guardiã de uma vida em potencial, e não como protagonista de sua própria história.

A luta pela IVG é, em última análise, uma luta pela dignidade, pelo respeito e pelo direito inalienável de cada mulher decidir o que fazer com seu próprio corpo. A Associação Escolha emerge como uma voz firme neste cenário, pronta a combater as adversidades e promover a verdadeira emancipação feminina, onde a escolha de ser ou não mãe seja uma decisão livre e consciente.

Juntem-se a nós na próxima semana para a segunda parte desta entrevista.

No nosso mais recente episódio do podcast Homo SemDeus, terminamos a entrevista à fundadora da Associação Escolha: Patrícia Cardoso. A conversa abordou temas profundamente sensíveis e estruturais sobre a liberdade e os direitos reprodutivos das mulheres, desafiando estereótipos sociais, políticos e religiosos.

Retomamos a conversa com a Patrícia a contextualizar a presença de uma loja de artigos religiosos em frente a uma clínica que faz IVG, mencionando que muitas vezes há pessoas ali reunidas para rezar, o que gera uma pressão silenciosa, especialmente durante eventos como a Quaresma. Introduzimos a dimensão legal da liberdade religiosa, destacando como a lei protege a manifestação pública de fé. Ficou assim claro o paradoxo de uma proteção legal que muitas vezes permite que essas manifestações reforcem a culpa e o estigma sobre quem procura procedimentos de IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez).

A Igreja Católica, em particular, tem uma posição rígida contra a IVG, acreditando que a vida começa na concepção. Esta visão, embora para muitos aceitável no âmbito da fé, pode ser extremamente prejudicial quando imposta a quem não partilha da mesma crença, ou a quem nunca teve a oportunidade de se libertar dela. Como ateia e numa posição pessoal que não representa necessariamente a AAP, acredito que a liberdade de escolha deve prevalecer, e que a decisão de interromper uma gravidez deve ser tomada pela mulher, sem interferências religiosas ou sociais.

A IVG em Portugal foi legalizada em 2007, após um referendo nacional. No entanto, a implementação da lei enfrenta vários desafios. A Patrícia refletiu neste episódio sobre os entraves legais e sociais que dificultam o acesso à IVG, falando dos entraves estruturais impostos pela objeção de consciência. Detalhou que regiões como o Alentejo e o Algarve são exemplos onde o acesso ao procedimento é praticamente inviável devido à falta de médicos dispostos a realizá-lo, situação agravada pela ausência de regulamentação específica sobre a objeção de consciência. A nossa entrevistada propôs que a lei deveria garantir um número mínimo de profissionais não objetores, de modo que os direitos das mulheres sejam realmente assegurados em qualquer região.

A entrevista seguiu por um caminho mais pessoal quando discutimos as pressões sociais e a visão de maternidade na sociedade contemporânea. Ambas compartilhamos as experiências e reflexões pessoais sobre o envelhecimento e a pressão para a maternidade, discutindo a forma como as mulheres são, ainda hoje, frequentemente reduzidas ao papel de mães ou cuidadoras. Discutimos como a maternidade consciente é essencial, reforçando que ter um filho não deve ser resultado de pressão social, mas sim de uma decisão ponderada e construída.

No decorrer da conversa, a Patrícia desconstruiu a ideia do instinto materno, afirmando que este é um conceito romantizado e enraizado na cultura patriarcal. Defendeu que a relação entre mãe e filho é construída e não inata, desmistificando o ideal de que todas as mulheres nascem para ser mães. Trouxe à tona a questão económica, apontando que, além da pressão emocional, a criação de um filho exige recursos que muitas pessoas, em particular da geração atual, não têm- Abordamos também como a criação de uma criança é um projeto de vida e que a responsabilidade da maternidade deve ser uma escolha deliberada e planeada.

Fomos discutindo a forma como a liberdade de escolha feminina, principalmente no que se refere à maternidade, ainda é questionada, principalmente fora dos centros urbanos. Sabemos que em contextos mais tradicionais, como pequenas cidades ou aldeias, a figura da mulher independente ou sem filhos é vista com estranheza, frequentemente tratada como uma ameaça ao modelo de família tradicional.

No final da entrevista, perguntei à nossa convidada se ela acredita que um dia a Associação Escolha poderá encerrar suas atividades por já não ser necessária. Patrícia respondeu de forma realista, afirmando que ainda estamos longe de alcançar uma sociedade verdadeiramente igualitária, onde as mulheres possam decidir plenamente sobre seus corpos e suas vidas. Acredita que, enquanto houver formas de subjugar as mulheres, a luta continuará necessária. Enfatizou que os avanços nos direitos das mulheres foram conquistados com muita luta e que é crucial proteger esses avanços e continuar a construir uma sociedade onde a liberdade e a igualdade sejam realidade para todas.

A entrevista encerrou com uma nota de apoio à luta e à missão da Associação Escolha, prometendo continuar a dar visibilidade e voz à causa. A luta pela liberdade reprodutiva e pelos direitos das mulheres é uma batalha contínua, e é fundamental que todos nós, como sociedade, nos unamos para garantir que esses direitos sejam respeitados e protegidos.

Links úteis

A AAP não subscreve necessariamente todas as ideias postuladas nesta entrevista, quer da parte da entrevistada quer da parte da apresentadora. No entanto, para quem gostaria de apoiar a Associação Escolha, deixamos alguns links úteis:

Website Associação Escolha

Instagram Associação Escolha

Facebook Associação Escolha

A Associação Escolha no Jornal Expresso

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Associação Médicos Pela Escolha

 International Planned Parenthood Federation (IPPF)

Quando o Irreverente Encontra o Polémico

Nesta crónica mensal do Homo Sem Deus, eu e o João Monteiro, Presidente da Associação Ateísta Portuguesa, mergulhamos numa série de temas que prometem provocar reflexão, algum desconforto e, como sempre, muitos risos irónicos. Aqui está um resumo do que debatemos no episódio.

Um Mundo de Contradições e Coragem

Abrimos com a história marcante de uma jovem iraniana que, num ato de protesto corajoso, desafiou as imposições do hijab e da repressão religiosa no Irão. A coragem dela expôs o perigo das teocracias, que não estão tão distantes quanto gostaríamos de acreditar. O que aconteceu no Irão pode ser um espelho para as tendências conservadoras que começam a infiltrar-se no Ocidente.

Trump e o Risco de Retrocessos

A eleição de Donald Trump reacendeu o alerta: direitos das mulheres, ciência e ambiente estão novamente sob ataque por uma política que caminha perigosamente para uma teocracia cristã. O impacto destas decisões ultrapassa fronteiras, e não podemos ignorar os sinais.

Entre Peregrinações e Assédio

Discutimos também os chocantes relatos de assédio sexual durante peregrinações religiosas em Portugal, Espanha e França. Uma questão que me inquieta profundamente: por que razão muitas mulheres acreditam que estão mais seguras ao fazerem uma peregrinação, como se fossem protegidas por uma entidade divina? No final, a realidade é clara: proteção divina ou não, a segurança no espaço público deveria ser um direito garantido.

A Mascote do Vaticano: Bonecos e Brinquedos

Numa tentativa de cativar jovens, o Vaticano apresentou uma mascote estilo manga. Parece inocente, sim? Até que se descobre que o artista por trás da criação tem um portfólio bastante… variado, incluindo brinquedos sexuais. Mais uma prova de que o Vaticano, em vez de lidar com os seus próprios escândalos, prefere desviar a atenção com manobras de marketing.

Influencers na Igreja: O Escândalo que Não Foi

Por fim, falámos sobre a influencer que gravou um vídeo numa igreja e enfrentou uma chuva de críticas. A minha pergunta é simples: se os nossos impostos mantêm esses edifícios, por que motivo o uso público, desde que respeitador, gera tanto escândalo? A hipocrisia é fascinante. Será um  forma de incentivar ao ódio dos cristãos, ou um exercício de perseguição religiosa?

Livro do Mês: O Universo das Seitas Destrutivas
Trouxemos também um momento de esperança, falando sobre o livro de António Madaleno, que analisa seitas destrutivas e dá ferramentas para ajudar quem vive sob o controlo desses grupos. A leitura é um lembrete de que é possível escapar e reconstruir uma identidade fora de um grupo de alto controlo, seja ele religioso ou não.

Além disso, anunciámos as novidades da Associação Ateísta Portuguesa:

  • A próxima Tertúlia Livre-Pensar, no dia 30 de novembro, focada na Semana da Ciência e Tecnologia, com uma homenagem a Rómulo de Carvalho.
  • A participação do João numa conversa internacional com um ativista brasileiro sobre o ateísmo nos dois países, disponível aqui (Ativistas Ateus do Brasil, com Marcos Cavalcanti).

Acompanhem-nos nas redes sociais e sigam o nosso site para mais informações. Até à próxima crónica, continuem a questionar, duvidar e, acima de tudo, a pensar.

Na entrevista desta quinzena, recebi João Sequeira, arqueólogo e associado da Associação Ateísta Portuguesa, para uma conversa sobre a sua trajetória pessoal e profissional, marcada pelo questionamento das estruturas religiosas.

As Raízes de uma Jornada: Infância e Primeiras Dúvidas
João nasceu nos anos 70, numa família conservadora. Como muitas crianças da sua geração, foi introduzido à prática religiosa cedo, com missas semanais e a forte influência cultural do catolicismo. No entanto, ao contrário da maioria, a curiosidade intelectual e o ambiente familiar relativamente aberto incentivaram-no a explorar além do que lhe era ensinado.

Ainda criança, João leu versões infantis da Bíblia e, com apenas 12 anos, começou a questionar as narrativas apresentadas. Este hábito de questionar consolidou-se na adolescência, quando debates familiares e confrontos com catequistas revelaram as incoerências das doutrinas religiosas. Este período formativo marcou o início de uma desconstrução que se estendeu por anos.

Fátima e o Despertar Crítico
Um ponto de viragem na jornada de João foi a leitura do livro Fátima Nunca Mais, do padre Mário de Oliveira. O livro questionava a veracidade dos eventos de Fátima e alinhava-se com as dúvidas que João já nutria. Para ele, este foi um momento de “Eureka” — não tanto pela descoberta de novas ideias, mas pela validação de pensamentos que já estavam em formação.

João descreveu-nos a forma como esta obra o conectou a um sentimento de comunidade intelectual. Embora ainda vivesse numa época sem internet, a leitura mostrou-lhe que ele não estava sozinho nas suas dúvidas. Esta experiência incentivou-o a explorar outras obras críticas sobre dogmas religiosos, como Fátima Desmascarada, de João Ilharco, solidificando a sua transição para o ateísmo.

Debates e Crescimento Intelectual
João partilhou experiências de debates com figuras religiosas e leigos. Num contexto em que o catolicismo predominava, encontrava frequentemente resistência, mas também momentos transformadores. Por exemplo, uma série de conversas com um colega de trabalho profundamente religioso revelou as contradições da fé deste último, levando-o também a questionar as suas crenças.

Estes diálogos moldaram a abordagem deste nosso associado, que aprendeu a plantar dúvidas de forma estratégica, permitindo que os outros explorassem as respostas por si mesmos. Uma das perguntas que usou, “E para aquelas crianças que morrem sem pecado?”, expõe o problema do mal e da justiça divina, questões centrais em discussões sobre teodiceia.

A Bíblia: Uma Fonte de Contradições
Um tema recorrente na conversa foi a complexidade e as incoerências da Bíblia. João começou a explorar os textos sagrados de forma sistemática ainda jovem. No entanto, o contraste entre o Deus punitivo do Antigo Testamento e o supostamente amoroso do Novo Testamento foi um dos primeiros sinais de alerta. Descreveu-nos assim a forma como essa dissonância o levou a questionar a autenticidade e a moralidade das escrituras.

O arqueólogo também abordou a maleabilidade do discurso religioso, descrevendo-o como “contorcionismo teológico”. A capacidade das lideranças religiosas de reinterpretar passagens bíblicas para se adequar a diferentes públicos, segundo ele, mina a credibilidade das suas mensagens.

Impactos Profissionais e Pessoais
Afastar-se da religião teve implicações tanto pessoais quanto profissionais. João reconhece que, em ambientes mais tradicionais, o ateísmo pode ser um estigma. Contudo, noutros contextos, como na Arqueologia, encontrou maior aceitação.

No campo pessoal, João relatou que manter relações com pessoas profundamente religiosas pode ser desafiador. As discussões sobre fé expõem barreiras emocionais, embora reconheça a importância de abordar esses temas com respeito e empatia.

Reflexões Finais: Fé e Sociedade
Concluímos esta conversa destacando a evolução do discurso religioso. Segundo ele, líderes religiosos mais instruídos tendem a adotar uma postura quase ateísta, utilizando a teologia como ferramenta interpretativa, em vez de literalista. Isso reflete uma tendência de acomodação às exigências de uma sociedade cada vez mais cética.

Apesar disso, o discurso religioso permanece profundamente enraizado na cultura, muitas vezes perpetuado por tradição em vez de convicção genuína. Este “automatismo” religioso, como lhe chama, é algo que João espera ver gradualmente desafiado por meio da educação e do pensamento crítico.

Este episódio foi uma oportunidade de explorar não só a história pessoal de um ateu e associado, mas também os desafios enfrentados por aqueles que questionam sistemas de crenças estabelecidos.

Patos, Vulcões e Contradições: Uma Viagem pelas Hipocrisias do Mundo Religioso

Neste episódio especial de Dezembro do Homo SemDeus, convido-vos a mergulhar numa análise provocadora e repleta de humor sobre as contradições do mundo religioso. Ao lado do meu coanfitrião, João Monteiro, abordamos temas que vão desde igrejas dedicadas a patos de borracha até o uso da imagem de bispos em burlas online. Tudo isto embalado pelo frio do inverno, mas aquecido pelo “calor humanista” que nos guia.

Abrimos a conversa com uma história peculiar de Madrid: a Igreja do Patickano, que ironicamente adora um pato de borracha. Para além de ser uma obra de humor brilhante, esta “igreja” expõe a hipocrisia dos crentes que, ao mesmo tempo que defendem a liberdade das suas crenças, atacam violentamente as dos outros. E eu não pude deixar de refletir: será que a viralização de ideias faz mais medo do que as ideias em si?

Passamos depois para a Guatemala, onde crentes carregaram uma estátua de Cristo ao topo de um vulcão. Para além de ser um esforço fisicamente notável, este evento relembra como as religiões adaptam práticas pagãs, numa clara mostra de sincretismo. Aqui em Portugal não é diferente: de velas para os santos até rezas ao diabo — afinal, como brincamos no podcast, se uma opção não funcionar, a outra pode compensar!

Outro ponto alto foi a discussão sobre a utilização da imagem de bispos em burlas online. Para além do lado preocupante da desinformação, não resisti à ironia: Os bispos estão chateados porque o dinheiro foi parar a outras mãos. Afinal, é só redistribuição de riqueza, não? Porém, o João destacou a importância de cibersegurança e literacia digital para combater estas situações.

Fechámos o episódio com a habitual sugestão literária do mês. Desta vez, trazemos o clássico Deus Não é Grande: Como a Religião Envenena Tudo, de Christopher Hitchens. Como eu disse no podcast, há algo de inspirador na coragem e mordacidade do Hitchens — um homem que nunca se calava e que faz muita falta nos dias de hoje.

Este episódio é um convite à reflexão sobre as estruturas de poder, as contradições humanas e o papel da religião na sociedade moderna. Por isso, deixo-vos com a frase que encerrou a nossa conversa: “Não há ódio como o amor cristão”. Provocador? Sem dúvida. Verdadeiro? Ouçam o episódio e tirem as vossas conclusões.

Curiosos para ouvir mais? O episódio está disponível no Spotify! Não se esqueçam de partilhar os vossos pensamentos nas redes sociais da AAP e deixar a vossa avaliação. Vamos continuar a questionar, a duvidar e a explorar juntos as vastas fronteiras do pensamento crítico!

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