Congresso Livre-Pensamento: Um Momento de Partilha e Reflexão
O primeiro Congresso LIVRE Pensamento da Associação Artística Portuguesa foi um sucesso, superando todas as expectativas. Originalmente planeado para Mortágua, em homenagem a Tomás da Fonseca, o evento acabou por se realizar em Coimbra, na Casa Municipal da Cultura, graças à sugestão do associado João Sequeira. O espaço revelou-se ideal, com uma equipa prestável e um ambiente acolhedor.
Sessão de Abertura: João Monteiro analisou a evolução dos temas abordados pela associação ao longo dos anos, enquadrando-os no contexto histórico e social de cada época. O ateísmo e o livre pensamento de hoje são diferentes dos do passado, refletindo mudanças na sociedade e na cultura.
Palestras:
Anabela Pinto Poulton trouxe uma reflexão profunda sobre o pensamento crítico e os vieses cognitivos que nos levam a acreditar em fenómenos religiosos.
Xavier Basto (Associação República e Laicidade) debateu a laicidade em Portugal, apresentando uma perspetiva desafiadora e realista sobre o estado atual do país.
Joel Santos e João Sequeira apresentaram um tema inovador: a arqueologia do lixo religioso, revelando o impacto ambiental e social de eventos religiosos massivos.
Eva Monteiro apresentou algumas ideias relacionadas com a mentalidade de seita e a forma fúngica como afeta grupos de pessoas com boas intenções.
Mesa Redonda: Homenageámos Tomás da Fonseca, com um texto de João Nascimento que se destacou pela sua qualidade literária e profundidade histórica.
Convívio: O evento foi também um momento de encontro pessoal entre associados, muitos dos quais se conheciam há anos, mas nunca tinham estado juntos presencialmente.
Foi um recomeço, um retomar do contacto pessoal e um reforço dos laços entre todos nós. As palestras, os debates e os momentos de convívio foram enriquecedores e inspiradores.
Sudário de Turim: Fraude Medieval e Manipulação Contemporânea
O Sudário de Turim continua a ser um tema de debate, especialmente após recentes descobertas e declarações. Durante o episódio, discutimos como a Igreja Católica e os meios de comunicação manipulam a narrativa em torno desta relíquia, apesar de evidências científicas e históricas que atestam a sua falsidade.
Novidades em 2025:
Um documento medieval recentemente descoberto, escrito pelo teólogo francês Nicole Oresme (século XIV), descreve o Sudário como uma “fraude clerical” e “patente”, criada para enganar fiéis e obter donativos. Este documento é a mais antiga prova escrita conhecida a desacreditar a relíquia, antecedendo em décadas outras denúncias históricas.
A Igreja Católica, através do Arcebispo de Turim, continua a promover o Sudário como símbolo de fé, utilizando tecnologias digitais para criar experiências interativas durante o Ano Jubilar. No entanto, a relíquia não será exposta publicamente, mas sim apresentada virtualmente, numa tentativa de atrair novos fiéis, especialmente jovens.
O Vaticano e o Centro Internacional de Estudos sobre o Sudário insistem em refutar as conclusões científicas, alegando que estudos físico-químicos descartam a origem medieval ou artística da imagem. No entanto, a falta de isenção é evidente: o interesse económico e religioso em manter a crença no Sudário é imenso.
A manipulação em torno do Sudário de Turim é um exemplo claro de como a Igreja Católica utiliza relíquias e símbolos para manter o controle sobre os fiéis, mesmo quando a ciência e a história os desacreditam.
A Igualdade de Género e os Direitos LGBTQIA+ na Igreja Católica: O Papado de Leão XIV
A eleição do novo Papa, Leão XIV, trouxe expectativas de mudança, mas a realidade tem sido de continuidade com pouca inovação. Durante o episódio, analisámos as suas declarações e ações recentes, que revelam uma postura ambígua e conservadora.
LGBTQIA+: Leão XIV mantém a linha de Francisco, permitindo bênçãos a casais do mesmo sexo fora dos ritos litúrgicos, mas sem alterar a doutrina da Igreja, que continua a considerar os atos homossexuais “intrinsecamente desordenados”. O Papa reafirmou que a Igreja não pode equiparar as uniões homoafetivas ao casamento tradicional.
Mulheres: Não há avanços na ordenação de mulheres ou na sua participação plena na hierarquia eclesiástica. Leão XIV prometeu continuar a nomear mulheres para cargos de liderança no Vaticano, mas sem alterar a estrutura de poder masculina da Igreja.
Família Tradicional: O Papa reafirmou que a família é baseada na união entre um homem e uma mulher, fechando portas a qualquer reformulação da doutrina sobre o casamento ou a sexualidade.
A Igreja Católica continua a ser uma instituição profundamente desigual, que exclui mulheres e pessoas LGBTQIA+ de posições de poder e decisão. A sua postura é contraditória: enquanto se apresenta como aberta e inclusiva, mantém uma doutrina que perpetua a discriminação.
Compensação Financeira a Vítimas de Abusos Sexuais na Igreja
O tema dos abusos sexuais na Igreja Católica é recorrente e doloroso. Em Portugal, o processo de compensação financeira às vítimas tem sido lento e burocrático, levantando dúvidas sobre a real vontade de justiça por parte da Igreja.
Situação em 2025: Até setembro de 2025, foram apresentados 84 pedidos de compensação, dos quais 77 foram considerados efetivos. As comissões de instrução já entrevistaram 70 pessoas, e estão prontos 65 pareceres. A meta é concluir o processo até ao final do ano, mas o atraso é evidentepublico.pt+2.
O Grupo VITA, criado pela Conferência Episcopal Portuguesa, tem sido o intermediário neste processo, mas as vítimas relatam uma “revitimização” durante as entrevistas, ao terem de revisitar os abusos sofridos.
A motivação das vítimas não é financeira. Muitas afirmam que vão doar o dinheiro recebido a causas sociais ou a familiares. O que buscam é justiça e reconhecimento público dos crimes cometidos.
A Igreja Católica continua a atrasar o processo, utilizando a burocracia como escudo. Enquanto isso, muitos agressores permanecem impunes, e as vítimas envelhecem sem ver a justiça feita. A lei portuguesa também falha ao não permitir que vítimas de abusos ocorridos há décadas possam apresentar queixa.
Laicidade do Estado: A GNR e a Benzedura de Guardas Fardados
A separação entre Igreja e Estado é um princípio fundamental da democracia, mas em Portugal ainda há casos de promiscuidade inaceitável. Exemplo disso é um caso que João Monteiro denuncia neste episódio. Uma fotografia publicada na conta de Facebook da GNR de Coimbra mostrava um bispo a benzer uma jovem guarda fardada, dentro de uma igreja. Este ato é problemático porque os guardas, enquanto fardados, representam o Estado e devem ser neutros em termos religiosos. Se fosse um imã ou um pastor evangélico, a reação pública seria muito diferente, o que revela um privilégio histórico da Igreja Católica.
A laicidade do Estado deve ser absoluta. Não podemos normalizar atos religiosos em contextos institucionais, especialmente quando envolvem agentes do Estado em serviço.
Extremismo e Xenofobia: O Grupo Reconquista
O grupo Reconquista, de extrema-direita, tem ganhado visibilidade em Portugal, promovendo discurso de ódio, xenofobia e nacionalismo radical. Em março de 2025, o líder do grupo, Afonso Gonçalves, foi retirado à força pela PSP de uma varanda em Lisboa, onde proferia discurso anti-imigração e islamofóbico. O grupo tem como objetivo a “remigração” e a defesa de uma suposta “pureza étnica” portuguesa. O Reconquista tem realizado ações provocatórias, como a colocação de cartazes com mensagens de ódio em mesquitas e centros culturais islâmicos em Lisboa, com frases como “Remigração ou Inquisição”.
Este tipo de discurso é perigoso e deve ser combatido com firmeza. Portugal não pode permitir que grupos extremistas disseminem ódio e violência, especialmente contra minorias já vulneráveis.
Financiamento Público à Igreja Católica: Um Desrespeito à Laicidade
As autarquias portuguesas continuam a financiar a Igreja Católica com milhões de euros, em clara violação do princípio da laicidade do Estado. Desde 2020, as autarquias gastaram mais de 11 milhões de euros com a Igreja Católica, dinheiro que falta para serviços públicos essenciais. Este financiamento é injusto e desnecessário, especialmente quando a Igreja Católica não paga impostos e acumula riquezas históricas.
É urgente cortar o financiamento público a instituições religiosas. A Igreja Católica deve ser autossustentável, como qualquer outra organização.
Livro do Mês: “O Fim do Mundo em Cuecas”
Para fechar o episódio, João Monteiro recomenda o livro “O Fim do Mundo em Cuecas”, organizado por Hugo van der Ding e David Marçal. Trata-se de uma obra de divulgação científica que aborda, com humor e rigor, os possíveis fins do mundo, desde catástrofes naturais a desastres causados pelo ser humano. A introdução, escrita por Carlos Fiolhais, faz um paralelo entre os fins do mundo previstos pela religião e aqueles que a ciência considera possíveis. É uma leitura essencial para quem quer entender como a crença em profecias apocalípticas tem sido usada ao longo da história para manipular as pessoas.
Próximos Eventos da Associação
Tertúlia Livre-Pensar: Dia 25 de outubro, às 10h, em sessão virtual. Tema: “Desafios da Descrença na Era Digital”.
Clube de Leitura: Dia 31 de outubro, às 22h. Leitura: “Cartas a um Jovem Dissidente”, de Christopher Hitchens.
Mensagem Final
Terminei o episódio com um apelo: “Onde não couberes, não te apertes”. A Igreja Católica, os grupos extremistas e as instituições que promovem a desigualdade não merecem o nosso silêncio ou a nossa cumplicidade. Devemos continuar a questionar, a duvidar e a lutar por uma sociedade mais justa, laica e igualitária.