No último sábado de cada mês, pelas 10h00, em sessão virtual, com um mínimo de 4 participantes.
No último sábado de cada mês, pelas 10h00, em sessão virtual, com um mínimo de 4 participantes.
As sessões são gravadas apenas com o intuito de permitir fazer um resumo dos temas discutidos para posterior publicação. Após feitas as notas necessárias, a gravação é eliminada permanentemente, para proteção dos participantes.
Veja abaixo os resumos das Tertúlias.
No dia 28 de Setembro de 2024, a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) realizou uma tertúlia intitulada “O Silenciamento das Mulheres no Afeganistão”, na qual discutimos o impacto devastador do regime talibã sobre as mulheres e meninas afegãs. A sessão foi marcada pela indignação e revolta contra as injustiças que essas mulheres enfrentam desde que o Talibã reassumiu o controle do país.
A tertúlia começou com uma introdução sobre a realidade das mulheres no Afeganistão. Desde a tomada de poder pelos Talibãs, o país transformou-se num verdadeiro campo de concentração aberto para as mulheres. Foram sistematicamente erradicadas da vida pública, privada e intelectual. Sob um regime de misoginia brutal, as mulheres afegãs perderam o direito de frequentar escolas, trabalhar fora de casa, e até mesmo de se movimentarem livremente sem a companhia de um homem.
Este sistema opressor é um projeto deliberado dos Talibãs, que justificam suas ações por interpretações religiosas extremas.
Um dos temas centrais debatidos foi o perigo de relativizar os abusos sob o pretexto de “choques culturais” ou respeito pelas tradições. Os intervenientes concordaram que não há justificativa para as violações de direitos humanos em nome de qualquer tradição ou religião. Foi destacado que a comunidade internacional, incluindo o Ocidente, tem sido cúmplice, quer pelo silêncio, quer pela falta de ação eficaz para mitigar este sofrimento.
Também se discutiu a forma como o regime talibã utiliza a religião como uma ferramenta de opressão, reforçando o domínio teocrático com base numa interpretação extrema e à letra do Islão. Embora muitas vezes se atribuam essas práticas apenas a grupos como os Talibãs, a tertúlia abordou o facto de que outras religiões também têm um histórico de uso da fé para subjugar mulheres e minorias.
Um dos momentos mais relevantes da tertúlia foi a comparação entre o regime talibã e movimentos extremistas religiosos em outras partes do mundo, incluindo o cristianismo. Apesar de contextos distintos, foi consensual entre os participantes que o desejo de controlar e oprimir mulheres está presente em várias tradições religiosas. A ideia de “pátria, família e fé” foi identificada como uma narrativa comum a muitos movimentos extremistas, sejam eles cristãos, islâmicos ou de outra fé.
Neste ponto, a discussão focou-se no risco de regimes teocráticos em geral, incluindo o cristianismo, ganharem espaço político nas sociedades ocidentais e em Portugal especificamente. Apesar de o foco estar no Afeganistão, foi inevitável a comparação com a ascensão de partidos de extrema-direita e movimentos religiosos em países como Portugal e Brasil, onde as políticas conservadoras têm vindo a ganhar terreno.
O debate também se voltou para as formas de ação que podem ser tomadas para apoiar as mulheres no Afeganistão e outras que enfrentam opressão religiosa e patriarcal. Destacou-se a importância da educação como uma ferramenta para a libertação das mulheres, e a necessidade de não permanecer em silêncio diante destas atrocidades. Houve também sugestões práticas, como a utilização de propaganda (no sentido de disseminação de informação e educação) para influenciar positivamente as comunidades muçulmanas, não só no Afeganistão, mas também em diásporas em Portugal.
Foi levantada a ideia de promover o diálogo inter-religioso e humanista, como forma de combater a desinformação e fomentar o respeito pelos direitos humanos universais. A criação de grupos para visitar mesquitas e dialogar com muçulmanos em Portugal foi vista como uma possível via para fomentar essa mudança.
A tertúlia da AAP sobre o silenciamento das mulheres no Afeganistão serviu para relembrar o peso da responsabilidade global em defender os direitos humanos. Ficou claro que a luta pela libertação das mulheres afegãs está intrinsecamente ligada à luta contra o extremismo religioso em todas as suas formas. O compromisso é de não calar, de denunciar, e de promover um diálogo global que inspire a mudança, não apenas para o Afeganistão, mas para todas as sociedades que ainda subjuguem as mulheres e endoutrinam as populações, com resultados desastrosos e castrantes.
Na mais recente edição da Tertúlia Livre-Pensar, dedicámo-nos ao tema do batismo na Igreja Católica, abordando as consequências e impactos desta prática inicial. Este ritual, comum a várias religiões, muitas vezes é apresentado como um compromisso espiritual e um marco de fé, mas há implicações mais profundas que se refletem tanto no indivíduo como na sociedade. Neste encontro, refletimos sobre os efeitos psicológicos, sociais e morais deste ritual de iniciação, especialmente quando realizado em crianças.
O debate foi introduzido com a questão do batismo como um instrumento de perpetuação religiosa, argumentando que a sua prática em tenra idade resulta na castração do pensamento crítico. A presença do batismo logo na infância inibe a capacidade da criança questionar e escolher livremente, deixando-a marcada, não apenas no sentido religioso, mas também no sentido burocrático e cultural. O batismo revela-se assim como uma “violência invisível” que, mesmo em formas subtis, limita a autonomia futura.
Ao longo da tertúlia, um ponto comummente abordado foi a pressão familiar para a realização do batismo, onde frequentemente o desejo de avós e outros membros mais velhos supera a vontade dos próprios pais, sobretudo em famílias de crenças divergentes. Diversos intervenientes partilharam experiências pessoais e familiares, relatando como esta pressão pode originar conflitos e tensões no seio familiar. Um dos participantes, por exemplo, salientou como, na sua experiência, foi instado a batizar as filhas apesar das suas convicções pessoais, ilustrando assim o impacto psicológico e emocional que este tipo de imposição familiar pode ter tanto nos pais como nas crianças.
Adicionalmente, abordámos os riscos físicos associados ao batismo, especialmente quando realizado em crianças muito novas, expostas a ambientes não controlados, como igrejas cheias. Para além da violência feita à mãe logo a seguir ao parto, há doenças como o herpes que é facilmente passado à criança, com elevado potencial de complicações e morte. Foi também destacado que, ao longo dos séculos, houve um endurecimento das práticas de iniciação religiosa, como batismos mais severos e rituais que chegavam a colocar em risco a saúde e o bem-estar das crianças. Foram apontados os vários casos de notícias relativas a padres que maltrataram crianças durante o ritual.
Por fim, o debate trouxe à tona o contraste entre a prática religiosa e os direitos fundamentais da criança, estabelecidos pela Convenção dos Direitos da Criança, que defende a liberdade de pensamento e consciência. Questões como “onde termina o direito dos pais de educar religiosamente e começa o direito da criança à sua própria escolha?” foram amplamente discutidas, refletindo a necessidade de ponderar a liberdade religiosa com o respeito pela individualidade das crianças.
Concluímos a tertúlia com a convicção de que este é um tema vasto e pertinente que merecerá novas edições e discussões, possibilitando uma análise mais aprofundada sobre os rituais de iniciação em diferentes religiões e culturas, e como estas práticas influenciam o desenvolvimento de uma sociedade mais consciente e inclusiva.
Na tertúlia deste mês, abordamos questões relacionadas com a educação em Portugal, com foco no pensamento crítico e no impacto da religião no ambiente escolar. A conversa foi inspirada pela figura de Rómulo de Carvalho (António Gedeão), poeta, cientista e defensor da racionalidade e do livre-pensar, em homenagem ao seu aniversário e em linha com a celebração da Semana da Ciência e da Tecnologia, que decorreu entre 18 e 24 de novembro 2024.
Rómulo de Carvalho destacou-se como educador, divulgador científico e poeta. Sua poesia, incluindo obras como “Pedra Filosofal” e “Lágrima de Preta”, foi celebrada por transmitir mensagens de humanismo e igualdade. A influência de Carvalho foi analisada tanto em sua vertente científica quanto na poética, evidenciando sua capacidade de articular ciência e emoção.
Um dos principais temas debatidos foi a presença da religião no sistema educacional português. A disciplina de Educação Moral e Religiosa (EMR), muitas vezes centrada no catolicismo, foi criticada por sua falta de pluralismo e potencial para a endoutrinação.
A Concordata entre Portugal e a Santa Sé foi apontada como raiz do problema. Esta concede à Igreja Católica autoridade sobre os conteúdos da EMR, dificultando esforços para reformular a disciplina em prol de uma abordagem mais inclusiva. A integração de perspetivas como as ciências da religião foi sugerida como alternativa para oferecer um ensino plural e culturalmente rico. Mais sobre a Concordata aqui.
Os participantes concordaram que a falta de pensamento crítico nas escolas é uma barreira significativa para o progresso. Documentos como o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória preveem o pensamento crítico como uma competência essencial, mas sua implementação ainda depende do empenho dos professores.
Foi destacada a importância de visitas de estudo, como ao Museu Judaico em Belmonte, que ajudam a contextualizar conceitos históricos e culturais, enriquecendo o aprendizado.
A obra Não Se Deixe Enganar, de Diana Barbosa, Leonor Abrantes, Marco Filipe e João Lourenço Monteiro (Presidente da AAP), foi recomendada como ferramenta para combater pseudociências e promover o pensamento crítico. Saiba mais sobre o livro aqui.
A tertúlia também celebrou a poesia de António Gedeão, com destaque para interpretações musicais como a de Manuel Freire e Pedro Barroso. O poema “Lágrima de Preta” foi recitado e analisado como exemplo de como a arte pode confrontar preconceitos.
Os participantes defenderam:
A tertúlia concluiu com um apelo por um sistema educacional mais laico, inclusivo e dedicado à promoção do pensamento crítico, alinhado com o legado de Rómulo de Carvalho.
Faça a sua inscrição até 48h antes da sessão para receber o link. A sessão decorre sempre que houver 4 ou mais participantes inscritos.